Reflexões Teológicas

_ Casa de retiros _

O problema do humano do padre
Pe. Joacir Soares d’Abadia, filósofo autor de 5 livros

    “O Verbo se fez carne e Habitou entre nós” (Jo 1, 14). Jesus habita no meio dos homens enquanto homem. Ele é o verdadeiro homem. Na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” no número 22 fala-se que “o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente.”. O Padre é homem. Então aqui vamos falar do mistério do padre com seu problema humano.
    Depois do Concílio Vaticano II (1962-1965) se fez vários estudos sobre a grande desistência ministerial dos padres. Alguns estudos concluíram que estavam havendo uma desintegração do próprio homem. Com isso se elencou alguns princípios que levaram a isso, como a falta de identidade, a solidez espiritual, a relativização do ministério, o ativismo funcionalismo e etc.
    Mas vamos aprofundar um pouco mais a respeito do padre homem, a humanidade do padre com a indagação: qual é o problema do humano do padre? Inicialmente é uma pergunta que deve levar em consideração a humanidade do padre com todo o seu relacionamento. Não qualquer relacionamento, mas aquele de temperamento.
    Através desta virtude o padre pode ser visto em sua totalidade, pois ela parte daquilo que lhe é peculiar: o relacionamento interpessoal. Deste modo, o padre deve ter virtudes humanas capazes de manifestar Maturidade.
    No Brasil, nos anos 70 a Santa Sé visitou todos os Seminários. Com isso se percebeu muitas coisas que desvirtuavam o Ministério. Por isso, em 1990 houve o Sínodos dos Presbíteros, o qual falou muito sobre a formação humana, justamente porque o resultado que colheram das visitas foram ruins.
    Com tudo isso acontecendo foi possível refletir sobre o problema humano do padre que estava ligado ao seu relacionamento temperamental e também falar das “Coisas Humanas do Padre”. Aqui já entra outro fator fundamental que é a identidade como pessoa humana madura. Até porque a unidade psicossomática está também ligada ao todo do humano.
    Vejamos! A pessoa humana do padre... Tem uma solidão existencial. É uma pessoa sozinha; traz consigo a solidão profissional, “o segredo do padre”, este se vence pelo amor, abertura de coração; é pessoa histórica. É sempre o que é todos os dias. Por exemplo, celebrando missas todos os dias, ser católico todos os dias, todos os dias deve renovar o mesmo amor.
    A pessoa humana madura do padre se aceita e aceita as outras pessoas. É preciso aceitar o fato. Muitas pessoas, no entanto, não aceitam que nasceu de uma prostituta ou em uma família pobre. Não aceitam o fato, por isso não amadurecem.
    Falar de maturidade é preciso falar de uma média: amadurecer sempre e em toda a vida. Ter uma liberdade interior. Fazer porque quer. E não por que foi obrigado. A pessoa humana do padre deve ser livre por dentro, de coração. O cardeal Van Thaun, por exemplo, era livre na cadeia.
    Um padre livre tem equilíbrio nas posições de alteridade. Sem condenação de ninguém por ninguém. Tem a capacidade de questionar, mesmo sabendo que não está todo pronto, mas questiona com coerência e tem censo crítico, sem se cobrir de máscaras, está sempre se integrando com sua própria identidade.
    Tirar a máscara é amadurecer no censo crítico e ter responsabilidade. Uma responsabilidade que possa comprometer a própria pessoa do padre levando-a a uma estabilidade de ânimo. É sempre a mesma. Tem uma unidade com todo o seu ser. E, através do seu censo de humor, lava-a ter compaixão no seu relacionamento com as pessoas e cria sua própria identidade madura, a qual enxerga o seu ministério a partir do mistério do Verbo encarnado. Assim, o padre tornar-se prático naquilo que faz sendo capaz de assumir seu problema humano de ser ponte para levar o cristão a Deus.

A Fé na pessoa do padre

    O padre é uma pessoa de fé. Mas o que é a fé? Como a vida do padre está toda em torno da fé, é muito importante dinamizá-la, crescer nela e questionar sobre o que vivemos: a possibilidade de crê. Num processo, o qual o Senhor vem e me ajuda crer.
    Deste modo, pode falar de um aspecto do crer – pelo Espírito Santo –: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 1,11). A fé capacita a pessoa a perceber coisas, mas invisível.
    Invisível porque são coisas espirituais. Tem-se uma intimidade com Deus. O invisível deve estar dentro da história do homem: “o Senhor esteja convosco, Ele está no meio de nós”. De que modo está no meio de nós? Pela fé, pois se percebe o invisível. O que lhe basta é se colocar no jogo como o Senhor, é preciso se entregar. As mães são grandes seres de fé. Elas entregam seus filhos ao Senhor com confiança.
    Na Dei Verbum encontramos sobre fé: “A Deus que revela é devida a «obediência da fé» (Rom. 16,26; cfr. Rom. 1,5; 2 Cor. 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo «a Deus revelador o obséquio pleno da inteligência e da vontade» e prestando voluntário assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá «a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade». Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons” (DV 5).

    Ela garante coisas futuras como em São Tiago: “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2, 18). Faz crer em realidades futuras ao passo que faz crer em alguém.
    A fé é entrega à ação do Senhor. Em um Prefácio nos diz “A fé que só vós conhecestes”. A fé do índio é diferente da nossa. Ela é um dom que cresce na lógica dela mesma.
    Para crescer na fé é preciso apurar os sentidos interiores. Ela é dom, então pode pedir mais e mais! Sem medo de recebe e firmes no que se espera. Em Filipenses podemos ler: “... eu ouça dizer que vocês estão firmes num só espírito, lutando juntos numa só alma pela fé do Evangelho, 28 e que vocês não têm medo de seus adversários” (Fl 1, 27-28).
    A fé do padre precisa tirá-lo do isolamento uma vez que ele não está sozinho. Pois, “juntos numa só alma pela fé” (Fl 1, 28) se enriquece no seu crescimento espiritual. Até porque “Quem se isola, empobrece” (Dom Paulo Antonino Mascarenhas Roxo). Quem tem fé não isola, mas cresce no dom que é a fé. Essa, na pessoa do padre é manifestada pela oração. Rezar é a primeira atividade pastoral onde a fé se manifesta mostrando crescimento.

À vida ministerial, a Palavra de Deus!

    O eixo e o ponto de partida de todo cristão é a Palavra de Deus. Ela propõe mudança de vida: “aos fieis santificados em Jesus Cristo, chamados à santidade” (1Cor 1, 2). Uma mudança aos fieis pelo Fiel por Excelência: “Fiel é Deus” (1Cor 1, 9). Mas qual implicação esta mudança deve propor aos fieis? É uma mudança de comunhão: “fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Cor 1,9). É fiel, portanto, o Deus chamou os fieis à comunhão com Jesus Cristo, o ressuscitado.
    Que comunhão é esta com Jesus Cristo? A palavra “comunhão” (koinonía) guarda, segundo a Bíblia de Jerusalém, através de seus múltiplos empregos, uma acepção fundamental. A comunhão tem sua fonte em realidades possuídas em comum por diversas pessoas, sejam realidades espirituais, sejam realidades materiais.
    Na verdade, entre cristãos, os bens materiais nunca ocorrem sem bens espirituais. Vejamos:
a)    “A Macedônia e a Acaia houveram por bem fazer uma coleta para os irmãos de Jerusalém que se acham em pobreza. Houveram-no por bem; aliás, o devem a eles, pois se os pagãos têm parte nos bens espirituais dos judeus, devem por sua vez assisti-los com os bens materiais” (Rm 15, 26-27);
b)    “e nos pediam com muita insistência o favor de poderem se associar neste socorro destinado aos irmãos” (2Cor 8, 4);
c)    “Pois, ao reconhecer a experimentada virtude que esta assistência revela da vossa parte, eles glorificam a Deus pela obediência que professais relativamente ao Evangelho de Cristo e pela generosidade de vossas esmolas em favor deles e em favor de todos” (2Cor 9, 13);
d)    “Aquele que recebe a catequese da palavra, reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gl 6, 6);
e)     “Vós que sois de Filipos, bem sabeis como, no início do meu ministério evangélico, quando parti da Macedônia, nenhuma comunidade abriu comigo contas de deve-haver, senão vós somente. Já por duas vezes mandastes para Tessalônica o que me era necessário. Não é o donativo em si que eu procuro, e sim os lucros que vão aumentando a vosso crédito” (Fl 4, 15-17).
    Por vezes, existe participação em ações ou em sentimentos:
a)    “A nossa esperança a respeito de vós é firme: sabemos que, como sois companheiros das nossas aflições, assim também o sereis da nossa consolação” (2Cor 1, 7);
b)    “Não vos prendais ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunidade entre a luz e as trevas?” (2Cor 6, 14);
c)    “A ninguém imponhas as mãos inconsideradamente, para que não venhas a tornar-te cúmplice dos pecados alheios. Conserva-te puro” (1Tm 5, 22);
d)    “Porque quem o saúda toma parte em suas obras más” (II Jo 11);
e)    “Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Ap 1, 9).
A comunhão, da qual se derivam todas as demais, dá participação em bens propriamente divinos:
a)    “E tudo isso faço por causa do Evangelho, para dele me fazer participante” (1Cor 9,23);
b)    “recordando-me da cooperação que haveis dado na difusão do Evangelho, desde o primeiro dia até agora” (Fl 1,5);
c)    “para que esta tua fé, que compartilhas conosco, seja atuante e faça conhecer todo o bem que se realiza entre nós por causa de Cristo” (Fm 6).

Ela nos une ao Pai e a seu Filho Jesus Cristo (1Cor 1,9; 1 Jo 1,3+. 7+), ao próprio Cristo (1Cor 10,16; Fl 3,10; 1Pd 4,13), ao Espírito (2Cor 13,13+; Fl 2,1). Ela nos faz participar da glória futura (1Pd 5,1).
Dado que Cristo teve comunhão com a nossa natureza humana (Hb 2, 14), nós temos comunhão com a natureza divina (2Pd 1,4+). – A palavra “Koinonía” tornou-se característica da comunidade cristã: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42).
Na comunhão com Cristo, nós formamos um só corpo com Ele a ponto de se oferecer com Ele no próprio Sacrifício Pascal:
a)    1Cor 12, 12: “Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo”;
b)    Ef 4, 16: “É por ele que todo o corpo - coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria - efetua esse crescimento, visando a sua plena edificação na caridade”;
c)    Jo 17,21 – que todos sejam Um. São João fala que formamos uma unidade. “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste”;
d)    Gl 2, 20 “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.
    O corpo oferecido, no sacrifício Pascal, é um Corpo espiritual. Um corpo com as características do espírito. Este corpo se faz perceber – na vida de Jesus ressuscitado – ele faz perceber quando se deixa ser tocado. Toca-lhe um corpo espiritual.
    O Papa Bento XIV nos fala do corpo:

“A corporeidade coloca limites à nossa existência. Não podemos estar contemporaneamente em dois lugares diferentes. O nosso tempo tende a acabar. E entre o “eu” e o “tu” existe o muro da alteridade. Certamente, no amor, podemos de algum modo entrar na existência do outro. Mas permanece a barreira intransponível de sermos diversos. Pelo contrário, Jesus, que agora fica totalmente transformado por meio do ato de amor, está livre de tais barreiras e limites. É capaz não só de passar através das portas externas fechadas, como narram os Evangelhos (cf. Jo 20, 19), mas pode também passar através da porta interna entre o “eu” e o “tu”, a porta fechada entre o ontem e o hoje, entre o passado e o amanhã. (...) Agora pode ultrapassar também o muro da alteridade que separa o “eu” do “tu”. Assim aconteceu com Paulo, que descreve o processo da sua conversão e do seu Batismo com estas palavras: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Por meio da vinda do Ressuscitado, Paulo obteve uma identidade nova. O seu “eu” fechado abriu-se. Agora vive em comunhão com Jesus Cristo, no grande “eu” dos crentes que se tornaram – segundo definição dele – «um em Cristo» (Gal 3,28)” (Homilia de Bento XVI na vigília da noite de Páscoa – domingo, 23 de março de 2008).

    Eis, portanto, um encontro com Jesus ressuscitado: tocar seu corpo pela fé. É um encontro com o invisível. Pela fé se percebe a presença do Senhor.
Toda a Palavra de Deus unida a Cristo cria uma intimidade muito maior na vida do ministro. Esse tem como formar uma comunhão de amor com Cristo a partir de sua unidade. A “Dei Verbum” afirma que o “(...) Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele (DV 2).
Nós estamos unidos ao Cristo Jesus. Nós estamos em uma realidade histórica onde “Cristo seja formado em vós”? (Gl 4, 19). Não, em vós, mas em nós. Temos que todos os dias assimilar ao Cristo. “Entrar no jogo” Dele. Deixar se conduzir, pois somos nós que precisamos estar unidos a ele.
Rezamos no Salmo: “Conservei no coração vossa palavras, a fim de que eu não peque contra vós” (Sl 118, 11). Ainda o Senhor reforça: “Fazendo-vos essas advertências, não vos posso louvar a respeito de vossas assembleias que causam mais prejuízo que proveito.18.Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando se reúne a vossa assembleia, há desarmonias entre vós. (E em parte eu acredito.19.É necessário que entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos.)” (1Cor 11, 17-19).
A Palavra de Deus arraigada no coração do padre, faz com que ele tenha uma oração verdadeira ao Senhor, colocando-se aos pés Dele sabendo que é necessitado do seu amor. O momento de oração é o momento mais importante na vida do padre. Rezar é estar com o Senhor; expor-se com confiança de filho; Dialogar com Ele. Estar pronto para a Oração. Para estar com uma pessoa é necessário dispor do seu tempo.
Rezar com a Palavra é o primeiro ofício a prestar à comunidade, porque Deus é prioridade. Sabendo que “a palavra do Senhor permanece eternamente (Is 40,6s). Ora, esta palavra é a que vos foi anunciada pelo Evangelho” (1Pd 1,24).
A Palavra de Deus é tudo que Deus fez. Seu cume é o seu Filho Jesus Cristo, a comunicação de Deus com os homens. No entanto, Deus se comunica de forma gratuita. Ele mesmo quis comunicar conosco. A Palavra de Deus é gratuita. Ele quis enviar seu Filho ao mundo.
Deus é Palavra, é comunicação, é diálogo. Deus realiza sua resposta ao homem, comunicando gratuitamente o Homem aos homens. O percurso disso é todo o conteúdo da sua Palavra. Ela expande a pessoa que fala.
Deste modo, a Palavra não pode dizer nada que contrarie sua mensagem. Por exemplo, a verdade da Bíblia existe enquanto traz a mensagem de Salvação. Mas ao tratar de geografia, ela contém muitos erros como também no campo da ciência. Mas sua verdade toca a totalidade da mensagem da Salvação. A este respeito não tem erro.
A Palavra de Deus é sempre a mesma. Ela aproxima o padre ao Senhor, há milênios de anos, pela Eucaristia. A Eucaristia é vida. Enquanto vida, fortalece a vivência espiritual do padre unida a Cristo, “Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão” (1Cor 10, 17). A Eucaristia é a vida que ajuda o padre ter um amor inigualável pela Palavra de Deus a tal ponto de nem mesmo conseguir separar uma da Outra. Celebram-nas juntas: em obediência a uma, se faz memorial da outra.
O padre, todavia, encontra-se com o Senhor por meio da Palavra. Pela sua Palavra Deus se manifesta deixando-o fazer comunhão com Ele. Na vida ministerial a presença do Senhor se manifesta também pela intimidade com a sua Palavra Encarnada: Jesus Cristo.





A caridade e a pobreza

Caro leitor! Sempre temos refletido aqui sobre assuntos Filosóficos, os quais nos lavam a pensar. Neste artigo vamos tratar da “Caridade” e da “Pobreza”, tendo em vista, “VICENTINOS”, seus focos principais de trabalho. Portanto, a caridade e, igualmente, a pobreza estão ligadas ao dever de justiça humana. Dar aos pobres o supérfluo é um dever Bíblico: “Do supérfluo dai esmolas” (Lc 11,41). “É um dever, não de estrita justiça, exceto nos casos de extrema necessidade, mas de caridade cristã, um dever, por consequência, cujo cumprimento não pode conseguir pelas vias da justiça humana” (Rerum Novarum, 12).
Porém, “A ‘caridade do homem’ não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres, mas antes e sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão” (Caritas in Veritate, 6). Com isso afirma o “Pontifício Conselho ‘Cor Unum’”: “Numa palavra e em termos realistas: a caridade não é um luxo, é uma condição de sobrevivência para um elevadíssimo número de seres humanos” (A fome no mundo, 11).



A caridade é um comprometer-se constantemente com o outro. Esse que sofre as mazelas da vida e também é uma forma de reconhecer que no outro se encontra uma parcela do meu ser enquanto humanidade. A caridade, entretanto, fará seu papel em ser uma elevadora de valores entre as pessoas, ao passo que se esforça para ver no sofrimento do próximo seu próprio “eu” refletido. Porque “a caridade constrói” (1Cor 8,1).
Deste modo, a caridade leva os homens a olhar a pobreza e tenta lhe dar uma dignidade de Conselho Evangélico. Pois, “A pobreza evangélica é por vezes objeto de comentários cínicos da parte tanto de indigentes como de pessoas ricas. Acusam-se os cristãos de querer perpetuar a pobreza. Tal desprezo pela pobreza seria deveras diabólico. A característica do demônio (cf. Mt 4) consiste em opor-se à vontade de Deus fazendo referência à Sua Palavra” (A fome no mundo, 62).
A caridade, portanto, sempre será uma das características sublimes que os homens de todas as épocas deverão cultivar frente à realidade da pobreza, sem tirar de ambas suas cômodas peculiaridades, as quais estão inscritas em cada uma. Com efeito, “A liberação interior produzido pelo espírito da pobreza evangélica nos faz mais sensíveis e mais idôneos, (...) já para dar à riqueza... a justa e com frequência severo avaliação que lhe convém” (Ecclesiam Suam, 51).
Deste modo, a caridade e a pobreza devem andar juntas, principalmente onde a pobreza se faz notar com mais força como nas periferias das grades cidade ou mesmo nos nossos bairros mais afastados. Por isso, estamos todos convictos de que, com o trabalho de cada um seja nas conferências ou mesmo no seu trabalho diário estão realizando seu ofício. Assim, caros Vicentinos, voltem a seu primeiro amor de múnus: olhar os pobres com caridade. (Quer saber mais sobre esse tema? Leia, então meu livro: “A Caridade e o Problema da Pobreza na Periferia”).

Joacir S. d’Abadia, padre, autor de 5 livros

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